Em uma coletiva de imprensa realizada recentemente, o cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jeremy Farrar, expressou uma preocupação crescente: o vírus da gripe aviária, especialmente o H5N1, está afetando um número alarmante de mamíferos, aumentando o risco de uma nova pandemia em seres humanos. “A grande preocupação reside na possibilidade de esse vírus adquirir a capacidade de transmissão entre humanos. Devemos nos preparar e garantir que, se o H5N1 adquirir essa capacidade, estejamos prontos para responder imediatamente, com acesso equitativo a vacinas eficazes”, alertou Farrar.
Fato é que a gripe aviária está afetando cada vez mais mamíferos, aumentando os temores de uma possível pandemia humana.
Um Alerta da comunidade científica
O diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, compartilha da mesma preocupação. Ele destacou que, embora os casos em humanos ainda sejam esporádicos e geralmente ocorram em pessoas que têm contato direto com aves, a intensificação da vigilância é essencial. “Os casos em humanos ainda são incidentais, limitados principalmente àqueles que trabalham diretamente com aves e acabam se contaminando, mas é crucial intensificar a vigilância e preparar-se para combater essa eventualidade”, disse Barbosa.
A preocupação de Barbosa não é infundada. Um estudo recente conduzido por cientistas europeus revelou que 57% dos infectologistas acreditam que um vírus da gripe, como o H5N1, será responsável pela próxima pandemia. A pesquisa, que envolveu 187 infectologistas de 57 países, também indicou que 21% dos especialistas temem uma doença desconhecida, enquanto 8% preveem que um novo coronavírus poderia ser o causador da próxima crise global de saúde. Outras preocupações incluem vírus como o da febre hemorrágica da Crimeia-Congo, o Ebola, o Nipah e a febre do Vale do Rift.
- Receba os conteúdos de Fernando Beteti pelo WhatsApp
- Receba os conteúdos de Fernando Beteti pelo Telegram
Uma história de devastação
O H5N1, uma cepa altamente patogênica do vírus da influenza, também conhecida como gripe aviária, tem causado devastação em escala global. Desde que foi identificado em gansos domésticos na China em 1997, esse vírus se espalhou rapidamente para humanos no Sudeste Asiático, resultando em uma taxa de mortalidade alarmante de 40-50%. Nos últimos três anos, essa cepa tem dizimado milhões de aves e afetado um número desconhecido de mamíferos, ressaltando a urgência de uma resposta global coordenada.
Mudanças climáticas
Barbosa também destacou a relação entre a transmissão interespécies e as mudanças climáticas, apontando que a expansão humana em territórios antes ocupados por vida selvagem está aumentando o risco de novas pandemias. “Esse contato frequente e as alterações decorrentes do nosso impacto ambiental estão ampliando essas possibilidades”, afirmou o diretor da Opas.
O cenário pintado pelas autoridades de saúde é preocupante. Se o H5N1 ou qualquer outro vírus similar adquirir a capacidade de transmissão eficaz entre humanos, o mundo pode enfrentar uma crise de saúde pública sem precedentes. A preparação e a vigilância são essenciais para mitigar o impacto de uma possível pandemia.
Um futuro incerto
O desafio agora é antecipar e combater essa ameaça potencial. A comunidade internacional deve intensificar os esforços para monitorar a propagação do H5N1 e outros patógenos emergentes. A história nos ensinou que subestimar o potencial de um vírus para causar uma pandemia pode ter consequências catastróficas. A questão não é mais se uma nova pandemia surgirá, mas quando e com que impacto ela atingirá a humanidade.
Entenda por que uma pandemia aviária é possível:
Registro em Múltiplos Países: A gripe aviária já foi detectada em humanos em 23 países, com 887 casos confirmados até o ano passado, segundo a OMS. Casos continuam a surgir, incluindo a infecção de uma criança de 2 anos na Austrália em março.
Proximidade com Humanos: O vírus H5N1 foi encontrado em ratos domésticos no Novo México, EUA. Devido à proximidade desses animais com residências humanas, há preocupação de que eles possam se tornar novos transmissores da doença.
Mutação do Vírus: O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relatou que o vírus infectou um trabalhador agrícola nos EUA e sofreu uma mutação que facilita sua replicação em hospedeiros mamíferos, aumentando o risco de adaptação ao organismo humano.
Possível Adaptação: Embora o H5N1 ainda não esteja bem adaptado ao organismo humano como às aves, mudanças em seu comportamento podem aumentar essa possibilidade no futuro.
Infecção no Sistema Respiratório: Em Michigan, EUA, um caso mostrou que o vírus conseguiu infectar o sistema respiratório de um agricultor. O pulmão é um local crítico onde o vírus pode potencialmente se adaptar melhor aos humanos e facilitar sua transmissão.
Com infoirmações do Olhar Digital