Alimentos ultraprocessados, muitas vezes considerados vilões por seus supostos efeitos na obesidade, na verdade não são responsáveis pelo ganho de peso, segundo um relatório recente. As informações são do Daily Mail.
Nutricionistas de destaque do governo dos EUA encontraram apenas evidências “limitadas” de que esses alimentos causam ganho de peso mais rapidamente do que outros tipos de alimentos. A análise abrangeu mais de uma dúzia de estudos desde a década de 1990.
O relatório completo ainda não foi publicado; apenas trechos foram disponibilizados online. Esses segmentos sugerem que não há nada inerente nos alimentos processados que provoque obesidade, destacando que a quantidade de calorias consumidas é o fator principal para o ganho de peso.
Carolyn Williams, nutricionista registrada que não participou da revisão, comentou ao DailyMail.com que, dada a atenção recente aos riscos dos alimentos ultraprocessados, este relatório pode surpreender muitas pessoas.
O relatório foi elaborado pelo Comitê Consultivo de Diretrizes Dietéticas dos EUA (DGAC), cujas conclusões influenciam rótulos nutricionais e recomendações de saúde pública.
“O que eles estão dizendo não é que não há relação entre alimentos ultraprocessados e aumento de peso”, explicou Dr. Williams ao DailyMail.com. “Eles estão dizendo que atualmente não temos evidências conclusivas suficientes para recomendar a evitação de todos os alimentos ultraprocessados.”
O grupo de 20 especialistas em nutrição foi escolhido pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos e pelo Departamento de Agricultura dos EUA para atualizar as diretrizes nutricionais nacionais. Suas recomendações para o período de 2025 a 2030 serão influenciadas por este relatório.
O relatório sugere que mais pesquisas são necessárias antes de estabelecer diretrizes sobre alimentos ultraprocessados. Até agora, apenas dois slides do relatório foram divulgados por Kevin D. Hall, cientista do National Institutes of Health, em uma postagem no X.
A DGAC expressou “sérias preocupações” sobre possíveis vieses nos estudos que ligam alimentos ultraprocessados ao ganho de peso, apontando que a definição desses alimentos não é precisa, o que pode levar a “viés de classificação incorreta” nos estudos.
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O sistema de classificação NOVA, desenvolvido por cientistas brasileiros na década de 1990, classifica alimentos ultraprocessados, mas deixa espaço para interpretações variadas. Em geral, alimentos com ingredientes não usados na culinária doméstica, como aditivos e estabilizantes, são considerados ultraprocessados, independentemente de seu valor nutricional.
Dr. Carolyn O’Connor, epidemiologista da Texas A&M, destacou ao The New York Times que agrupar todos os alimentos ultraprocessados é impreciso, pois alguns são mais prejudiciais que outros. Connie Diekman, nutricionista registrada, também comentou que a falta de uma definição clara dificulta conclusões precisas.
A DGAC observou que muitos dos estudos revisados foram realizados em outros países e apenas um foi conduzido em laboratório, dificultando conclusões definitivas sobre os efeitos dos alimentos ultraprocessados na saúde.
Críticos do relatório apontam que ele não aborda outras preocupações, como a ligação entre alimentos processados e doenças crônicas. Uma revisão de 2024 por pesquisadores da Universidade Deakin, na Austrália, associou alimentos ultraprocessados ao diabetes tipo 2, doenças cardíacas e problemas de saúde mental. Estudos também sugerem uma relação entre esses alimentos e o câncer.
Apesar da controvérsia, Williams enfatiza que a ciência é um processo lento e que mais pesquisas são necessárias para conclusões definitivas. O relatório destaca a necessidade de mais investigações sobre os efeitos dos alimentos ultraprocessados na saúde. Ela conclui que é melhor que o comitê federal não tire conclusões precipitadas.