Um estudo publicado no início do ano no JAMA Ophthalmology acendeu um alerta sobre o uso dos medicamentos Ozempic e Mounjaro, cujos princípios ativos são, respectivamente, a semaglutida e a tirzepatida. Pesquisadores relataram nove casos de pacientes que apresentaram perda parcial de visão após o início do tratamento com essas substâncias, frequentemente utilizadas no controle do diabetes tipo 2 e também indicadas para perda de peso.
Embora a relação direta de causa e efeito ainda não tenha sido confirmada, os autores da pesquisa observam uma coincidência preocupante entre o início do uso dos medicamentos e o surgimento dos sintomas visuais. Eles levantam a hipótese de que a rápida queda nos níveis de glicose promovida por esses medicamentos possa estar por trás dos danos aos vasos sanguíneos oculares.
O trabalho envolveu médicos oftalmologistas e neurologistas da Universidade de Utah, em Salt Lake City, além de especialistas de outras cinco instituições. Os pacientes analisados tinham entre 37 e 77 anos, com média de 57 anos — cinco mulheres e quatro homens.
Problemas oftalmológicos relatados
Entre os nove casos descritos, sete pacientes foram diagnosticados com neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION) — uma condição rara, mas grave, que pode causar perda súbita da visão em um dos olhos, especialmente em pessoas com mais de 50 anos.
LEIA TAMBÉM – Diabetes: Afinal, a reversão é possível?
Em 2024, um estudo conduzido por pesquisadores de Harvard já havia apontado que usuários de Ozempic podem ter quatro vezes mais chances de desenvolver NAION, quando comparados à população em geral. Ainda assim, a condição continua considerada incomum.
Outros casos identificados no estudo incluíram papilite bilateral — inflamação simultânea do nervo óptico em ambos os olhos — e maculopatia média aguda paracentral (PAMM), uma lesão na camada interna da retina.
Relatos que preocupam
Entre os episódios mais emblemáticos, está o de uma mulher na casa dos 50 anos com diabetes tipo 2. “Ela relatou ter perdido a visão do olho esquerdo um dia após injetar a primeira dose de semaglutida. Após interromper o tratamento por dois meses, a visão voltou.”
Outro relato é de uma paciente com cerca de 30 anos que notou sombras na visão de um dos olhos poucos dias após o início do uso da medicação.
Segundo os autores do estudo, “acreditamos que é a correção rápida da hiperglicemia, e não um possível efeito tóxico dos medicamentos, que poderia estar associada às complicações relatadas”. Eles defendem que mais pesquisas são necessárias para entender melhor os riscos e a segurança dessas terapias.
O que dizem os fabricantes
O portal Metrópoles procurou as fabricantes dos medicamentos para comentar os achados.
A Novo Nordisk, responsável pelo Ozempic, declarou que a NAION “é uma doença ocular muito rara e não é considerada uma reação adversa da semaglutida”, conforme consta nas bulas aprovadas.
“Embora estudos realizados pela empresa tenham mostrado um aumento aproximado do risco relativo, o risco absoluto e o número absoluto de pessoas afetadas são muito baixos. Isso está de acordo com a incidência anual muito baixa desse distúrbio raro. Um dos estudos encontrou que 2 pessoas a cada 10.000 pacientes tratados com semaglutida por ano desenvolveram NAION, em comparação com 1 a cada 10.000 no grupo de controle, concluindo que o risco absoluto é muito baixo”, afirmou a farmacêutica.
“A segurança dos pacientes é uma prioridade máxima para a Novo Nordisk, e levamos muito a sério todos os relatos de eventos adversos relacionados ao uso de nossos medicamentos. Isso também se aplica a condições oculares, que são comorbidades bem conhecidas em pessoas com diabetes”, completou a empresa.
A Eli Lilly, responsável pelo Mounjaro, não comentou diretamente os casos relatados. Em nota, destacou que está comprometida em monitorar e divulgar continuamente os dados de segurança de seus medicamentos.
“A tirzepatida é um medicamento que tem ajudado milhões de pacientes em todo o mundo. Nossa confiança na molécula é baseada em nosso extenso programa de ensaios clínicos. Os estudos SURMOUNT e SURPASS que apoiam as autorizações regulatórias incluíram mais de 11 mil pacientes e foram publicados em importantes periódicos científicos”, informou.
“Se alguém estiver experimentando efeitos colaterais ao tomar qualquer medicamento da Lilly, converse com seu médico ou outro profissional de saúde”, concluiu.
O que você deve fazer
Caso esteja usando algum desses medicamentos e note qualquer alteração na visão, como embaçamento, perda súbita ou sombras, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente. A avaliação precoce pode ser decisiva para o tratamento e a reversão do quadro.
Com informações do Metrópoles