Por mais de um século, pesquisadores têm explorado os segredos de uma ilha pequena situada no litoral sul de São Paulo, com uma extensão de 43 hectares. Esta ilha é chamada de Ilha da Queimada Grande e está localizada a cerca de 35 km da costa de Itanhaém (SP). Ela é lar de aproximadamente 15 mil cobras da espécie jararaca-ilhoa, o que lhe rendeu o apelido de “Ilha das Cobras”.
Devido à alta concentração de cobras venenosas, a ilha é restrita ao acesso do público em geral devido aos riscos que apresenta. Em geral, somente pesquisadores vinculados ao Instituto Butantan e outras instituições acadêmicas e de pesquisa autorizadas têm permissão para visitar a área.
A jararaca que habita exclusivamente a Ilha da Queimada Grande evoluiu ao longo do tempo devido ao seu isolamento geográfico, adquirindo características únicas e distintivas. Esta jararaca adaptou-se a uma dieta composta principalmente por aves, uma vez que a ilha não possui roedores. No entanto, as aves que habitam a ilha desenvolveram mecanismos de defesa contra a jararaca-ilhoa.
Uma característica marcante da jararaca-ilhoa é sua preferência por viver nas árvores, o que facilita a caça de suas presas. Além disso, essas serpentes apresentam uma coloração amarelada e possuem uma cabeça proporcionalmente maior em comparação com as jararacas do continente.
Veneno das cobras jararacas-ilhoas é 20 vezes mais potente
Quanto ao veneno da jararaca da Ilha da Queimada Grande, ele tem efeitos no corpo humano semelhantes ao veneno da jararaca comum.
Conforme apontado por especialistas, o veneno das jararacas-ilhoas é estimado como sendo até 20 vezes mais potente em comparação com o das jararacas comuns. Estudos também revelam que o veneno desta espécie específica tem a capacidade de levar à morte de um ser humano em um período de até seis horas após o ocorrido da picada, o que sugere uma adaptação evolutiva voltada para suas presas particulares.
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Além das características venenosas, as jararacas-ilhoas também se distinguem pelo seu tamanho. Elas são ligeiramente menores, geralmente medindo entre 0,5 e 1 metro de comprimento. Em contrapartida, o tamanho médio da jararaca comum, conhecida cientificamente como Bothrops jararaca, varia entre 1,2 e 1,6 metros. No entanto, o Instituto Butantan destaca que exemplares dessa espécie podem atingir até 2 metros de comprimento em condições ideais.
Veneno pode ser o remédio
No entanto, os cientistas estão estudando o veneno desta serpente, que apresenta mutações em sua composição, com o objetivo de explorar seu potencial na produção de medicamentos.
O veneno da jararaca e de outras serpentes venenosas tem sido objeto de estudos científicos devido às suas propriedades bioquímicas e potencial terapêutico. O veneno contém uma mistura complexa de proteínas, enzimas, peptídeos e outras moléculas bioativas que podem ter diferentes efeitos no corpo humano.
Algumas das substâncias encontradas no veneno de serpentes têm demonstrado potencial para serem utilizadas no desenvolvimento de medicamentos. Por exemplo:
- Analgésicos: Certos componentes do veneno têm propriedades analgésicas, podendo ser úteis no desenvolvimento de novos medicamentos para aliviar a dor.
- Anticoagulantes: O veneno pode conter substâncias que têm a capacidade de prevenir a coagulação do sangue, o que pode ser útil no tratamento de doenças cardiovasculares.
- Anticancerígenos: Alguns estudos sugerem que certos componentes do veneno de serpente podem ter atividade anticancerígena, podendo ser explorados no desenvolvimento de novos tratamentos contra o câncer.
- Anti-inflamatórios: O veneno também pode conter substâncias com propriedades anti-inflamatórias que podem ser úteis no tratamento de doenças inflamatórias.
- Outros usos potenciais: Além dos exemplos acima, o veneno de serpente também tem sido estudado para o tratamento de doenças neurodegenerativas, doenças autoimunes e outras condições médicas.
Além disso, muitos pesquisadores estão trabalhando no desenvolvimento de versões sintéticas ou derivadas seguras e eficazes dos componentes bioativos do veneno de serpente para minimizar os riscos associados ao uso terapêutico dessas substâncias.