O Japão enfrenta uma onda alarmante de infecções por uma bactéria mortal, com casos de síndrome do choque tóxico estreptocócico (STSS) atingindo níveis recordes, conforme números oficiais do Ministério da Saúde do país. Até 2 de junho, foram registrados 977 casos de STSS, uma infecção rara e altamente letal, com uma taxa de mortalidade de até 30%. Este número já supera o recorde anterior de 941 infecções preliminares, alcançado no ano passado.
Entre janeiro e março deste ano, pelo menos 77 pessoas morreram em decorrência da STSS, segundo os dados mais recentes disponíveis. No ano passado, o Japão registrou 97 mortes relacionadas à STSS, o segundo maior número nos últimos seis anos, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas (NIID).
A STSS é causada principalmente pela bactéria Streptococcus do grupo A (GAS), mais conhecida por provocar febre e infecções de garganta em crianças. Em casos raros, essa bactéria pode se tornar invasiva, liberando toxinas que permitem sua entrada na corrente sanguínea, causando doenças graves e, por vezes, fatais. Os sintomas iniciais incluem febre alta, dores musculares e vômitos, mas podem evoluir rapidamente para pressão arterial baixa, inchaço e falência múltipla dos órgãos, levando o corpo a entrar em choque.
“Mesmo com tratamento, o STSS pode ser mortal. Em cada 10 pessoas com STSS, até três podem morrer da infecção,” alerta o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
- Receba os conteúdos de Fernando Beteti pelo WhatsApp
- Receba os conteúdos de Fernando Beteti pelo Telegram
Surto sem explicação clara
A razão por trás do aumento acentuado de casos de STSS neste ano no Japão permanece um mistério para os especialistas. O professor Ken Kikuchi, da Universidade Médica Feminina de Tóquio, sugere que o aumento pode estar relacionado ao enfraquecimento do sistema imunológico das pessoas após a pandemia de Covid-19. “Podemos aumentar a imunidade se estivermos constantemente expostos a bactérias. Mas esse mecanismo esteve ausente durante a pandemia do coronavírus. Portanto, mais pessoas estão agora suscetíveis à infecção, e essa pode ser uma das razões para o aumento acentuado de casos,” explicou Kikuchi à NHK, emissora pública japonesa.
O CDC destaca que os idosos com feridas abertas, incluindo aqueles que passaram por cirurgias recentes, estão em maior risco de contrair STSS. No entanto, “os especialistas não sabem como a bactéria entrou no corpo de quase metade das pessoas que contraem STSS,” conforme consta no site da organização.
Tendência global de aumento
A STSS não é um problema exclusivo do Japão. Em dezembro de 2022, cinco países europeus relataram à Organização Mundial da Saúde (OMS) um aumento nas infecções invasivas por Streptococcus do grupo A (iGAS), com as crianças com menos de 10 anos sendo as mais afetadas. O CDC também identificou um aumento na incidência dessas infecções em outras partes do mundo.
Especialistas acreditam que o aumento global nas infecções pode estar relacionado ao relaxamento das medidas de controle da Covid-19, como o uso de máscaras e o distanciamento social, que anteriormente ajudavam a conter a propagação de diversas infecções bacterianas e virais.
Alerta
Em março, as autoridades japonesas já haviam emitido um alerta sobre o aumento dos casos de STSS, destacando que os casos de iGAS aumentaram significativamente desde julho de 2023, particularmente entre pessoas com menos de 50 anos.
O surto atual de STSS destaca a necessidade urgente de reforçar medidas de prevenção e vigilância para evitar que mais vidas sejam perdidas. As autoridades japonesas e internacionais continuam a monitorar a situação de perto, em busca de respostas e soluções para conter essa ameaça silenciosa e letal.