O paracetamol, conhecido por suas propriedades analgésicas e antitérmicas, é frequentemente utilizado por gestantes para aliviar dores e febre. Contudo, pesquisas recentes apresentam resultados conflitantes sobre a segurança desse medicamento durante a gravidez, especialmente no que tange ao desenvolvimento neurológico das crianças.
Um estudo conduzido pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e pela Universidade de Drexel, nos Estados Unidos, analisou dados de aproximadamente 2,5 milhões de crianças nascidas entre 1995 e 2019. Publicado na revista JAMA, o estudo não encontrou evidências que associem o uso de paracetamol durante a gestação a um aumento no risco de autismo, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou deficiência intelectual nas crianças. Os pesquisadores utilizaram uma análise entre irmãos para controlar fatores genéticos e ambientais, concluindo que associações observadas em estudos anteriores poderiam ser atribuídas a fatores de confusão.
Por outro lado, uma pesquisa publicada na revista Nature Mental Health aponta para uma possível relação entre o consumo de paracetamol durante a gravidez e um aumento no risco de TDAH em crianças. O estudo analisou amostras de sangue de 307 mulheres no segundo trimestre da gestação e acompanhou o desenvolvimento de seus filhos por até 10 anos. Os resultados indicaram que crianças cujas mães apresentavam biomarcadores plasmáticos de acetaminofeno eram 3,15 vezes mais propensas a desenvolver TDAH. Notavelmente, as filhas dessas mães tinham seis vezes mais chances de serem diagnosticadas com o transtorno, enquanto nos filhos homens a associação não foi significativa. Os autores sugerem uma reavaliação das diretrizes de segurança do acetaminofeno durante a gravidez, dado seu uso generalizado.
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Diante desses achados divergentes, especialistas enfatizam a importância de as gestantes consultarem seus médicos antes de utilizar qualquer medicamento. A automedicação ou a suspensão abrupta de tratamentos podem trazer riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Embora o paracetamol seja amplamente considerado seguro durante a gestação, é essencial que seu uso seja orientado por um profissional de saúde.
Em resumo, enquanto alguns estudos sugerem uma possível associação entre o uso de paracetamol na gravidez e o aumento de riscos de transtornos do desenvolvimento neurológico, pesquisas mais robustas e recentes não corroboram essa ligação. Portanto, é fundamental que as gestantes tomem decisões informadas e sempre sob orientação médica.