Um parasita microscópico, presente em cerca de um terço da população mundial, pode estar influenciando silenciosamente o comportamento humano. Trata-se do Toxoplasma gondii, um protozoário que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), já infectou aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo.
Embora a maioria das pessoas infectadas não apresente sintomas, novas pesquisas sugerem que o Toxoplasma gondii pode provocar alterações no cérebro e até interferir no comportamento humano.
O que é o Toxoplasma gondii?
O Toxoplasma gondii é um protozoário parasita cujo hospedeiro definitivo são os gatos, onde ele se reproduz. A transmissão para os seres humanos ocorre principalmente por meio do contato com fezes de gatos contaminadas, ingestão de carne crua ou malcozida e consumo de alimentos mal higienizados. Casos mais raros podem ocorrer por transfusões de sangue ou transplantes de órgãos.
A maior parte das infecções em adultos saudáveis é assintomática, caracterizando a chamada toxoplasmose latente. No entanto, o parasita é perigoso para pessoas com sistema imunológico comprometido e para gestantes, já que pode atravessar a placenta e causar sérios danos ao feto.
Parasita pode afetar emoções, decisões e saúde mental
Pesquisas indicam que o Toxoplasma gondii tem capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e formar cistos em regiões cerebrais associadas às emoções, ao medo e à tomada de decisões, como a amígdala cerebral. Esse parasita também interfere nos níveis de dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer, motivação e comportamento.
Experimentos mostram que, em ratos, o parasita altera o comportamento dos animais, eliminando o medo de gatos e aumentando as chances de serem caçados — completando assim o ciclo de vida do protozoário. Esse fenômeno intrigou os cientistas, que começaram a investigar se o mesmo poderia ocorrer em seres humanos.
Estudos associam toxoplasmose a transtornos mentais
As primeiras suspeitas de que o Toxoplasma gondii poderia influenciar o comportamento humano surgiram nos anos 2000. Pesquisadores da Universidade Carolina de Praga, como Jaroslav Flegr, observaram que pessoas infectadas apresentavam mudanças sutis de personalidade: homens mais impulsivos e irritáveis e mulheres mais sociáveis e calorosas.
Em 2012, um estudo publicado no Schizophrenia Bulletin encontrou ligação entre a infecção e o aumento do risco de distúrbios psicóticos, como a esquizofrenia. Já uma meta-análise de 2016, publicada na revista Acta Psychiatrica Scandinavica, reforçou a associação da toxoplasmose latente com diversos transtornos neuropsiquiátricos.
Embora esses estudos apontem uma forte correlação, os cientistas destacam que ainda não há comprovação definitiva de causalidade — ou seja, não se pode afirmar que o parasita seja a causa direta de doenças mentais.
Impacto na fertilidade e novos alertas
Um estudo recente chamou atenção ao mostrar que o Toxoplasma gondii pode afetar também a fertilidade masculina. Pesquisadores descobriram que o parasita é capaz de destruir espermatozoides em poucos minutos, levantando uma possível ligação com o aumento global da infertilidade masculina.
Outro alerta vem da alimentação: uma pesquisa europeia identificou a presença do protozoário em cerca de 4% das saladas embaladas prontas para consumo, reforçando a importância da higienização adequada de alimentos, mesmo os industrializados.
Sintomas e prevenção da toxoplasmose
Na maioria dos casos, a infecção pelo Toxoplasma gondii é silenciosa, mas pode causar sintomas como:
- Febre leve;
- Dores musculares;
- Linfonodos inchados.
Em casos graves, especialmente em imunodeprimidos e gestantes, a toxoplasmose pode causar danos ao cérebro, aos olhos e ao sistema nervoso central.
Principais formas de prevenção:
✅ Cozinhar bem carnes, especialmente carne suína e de cordeiro;
✅ Lavar frutas, verduras e legumes cuidadosamente;
✅ Usar luvas e lavar bem as mãos após mexer com areia de gatos;
✅ Gestantes devem evitar contato com caixas de areia de gatos.
Parasita Toxoplasma gondii e comportamento humano: um mistério em aberto
Enquanto novos estudos tentam entender até que ponto o Toxoplasma gondii pode realmente alterar o comportamento humano, o tema continua gerando curiosidade, debates e alertas de saúde pública.
A possibilidade de que um parasita silencioso possa influenciar decisões, emoções e até o livre-arbítrio desperta preocupação. Por isso, a prevenção da toxoplasmose continua sendo a melhor maneira de evitar complicações e proteger a saúde física e mental.
Com informações do R7